Carne Viva

Queriam muito de mim.
Exigiam minha sinceridade. Minha transparência. Minha verdade.
Foi cansativo. Exaustivo. Desgastante. Consegui.
Tiraram de mim tudo o que eu tinha. Escalpelaram-me. Doeu.

Pendurada pelas pernas, fui servida. Crua.
E todos detestaram o sabor que eu tinha.

Pois, mesmo que eu avisasse do amargo que trago, ainda assim esbanjariam caretas ao me pôr à prova.

Introspecto

Se quiser falar comigo escreva-me uma carta que toque meu coração... Vou-me embora para dentro. Já me externei demais.

Amor a nós

Se o lixo não me derrubasse ao chão. Assim como os carros não me causassem pavor ao atravessar as ruas. Se me dissessem bom dia, boa tarde e boa noite e ainda assim me agradecessem a gentileza de lhes abrir o portão. Se cada um fizesse sua parte. E se todos tivéssemos educação. E se eu parasse de imaginar. E se eu percebesse que 'se' não existe. E que realidade é como disseram: questão de percepção...

Ainda não perceberam que a gente junto seria melhor se a gente sozinho fosse também.

Amem!

Amém!

Mundo Paralelo

Einstein disse que a imaginação é mais importante que o conhecimento. Nessa mesma linha de pensamento, a realidade existe (apenas) até onde percebemos.

Como se houvesse um nível de classificação, o respeito talvez fosse o sentimento mais próximo da realidade máxima!

Respeitar um indivíduo pelo que ele é, por mais diferente de você que seja, é perceber mais que aquele que lhe julga pelas roupas que veste, o cabelo que usa, o modo como fala, onde mora, o que come, com quem sai, o que faz pra viver...

A percepção pode ser alterada. Não apresenta forma definida. É uma interpretação individual. E por mais que eu diga, você consegue aí, do seu ângulo de visão, enxergar tantas outras definições, ideias, conceitos... sobre o mesmo tema.

A evolução de um ser, da condição de mero humano, deve estar relacionada a capacidade que se tem de transcender às próprias percepções. 

Ela tem um corpo tão "trabalhado" quanto a outra tem a alma. Enquanto ela passa três horas todos os dias na academia a outra passa na biblioteca. Ela dança axé, funk e curte pop music. A outra coleciona vinis de jazz.
(...)
Ela tem um decote mais obsceno do que aquela foto tirada da outra durante a slut walk.  Dois martínis aqui... sete conhaques ali. Ela fala de vídeos no youtube, musculação e lojas de grife. A outra se delicia com a música, troca figurinhas sobre literatura e chá de cogumelo. Ela dá moral para três caras diferentes na mesma festa enquanto a outra bebe e ri com os mesmos três caras e mais uns cinco. Ela quebra o salto e todo mundo corre ajudar. A outra quebra as garrafas e a galera chama a segurança. Ela sai acompanhada do galã pop dentro de um carrão vermelho. Cambaleante a outra desce a rua em sua bike cor de bronze.

Ela não conhece o mundo e o que ele realmente significa. Nem a outra, seu mundo paralelo.